A história da cerâmica remonta à descoberta do fogo. Sua adaptabilidade reflete a própria capacidade humana da reinvenção, enquanto o barro promove uma reconexão do homem com o mundo natural.

O ateliê cerâmico da artista, professora e pesquisadora Keiko Mayama apresenta a produção que transforma fragmentos em poesia visual, nesta segunda edição da exposição “Cacos e Ecos, uma arqueologia do presente”. A partir de cacos cerâmicos, como restos de peças quebradas, descartadas ou esquecidas, emerge uma linguagem artística que une reaproveitamento, consciência ambiental e inventividade.

A trajetória de Keiko Mayama é marcada pela pesquisa minuciosa e poética da cerâmica como linguagem estética, manifestação cultural e campo de saber.

Os integrantes do ateliê demonstram que arte e ciência convergem na construção de um olhar que ultrapassa o óbvio. Trata-se da cerâmica como essência da própria arte, valorizando os objetos e a relação entre matéria, criador, obra e público.

Os fragmentos dialogam entre si, ecoando memórias, afetos e temporalidades diversas. Cada peça, recomposta a partir dos cacos, revela a beleza da imperfeição e o poder simbólico da resistência. São vestígios que abrem caminhos para novas continuidades e transformações.

Nesse entrelaçamento, o ateliê se torna um território de escavação e reinvenção, uma verdadeira arqueologia do presente. As obras nos convidam a revisitar o tempo e o gesto criador, apostando na força dos “resíduos” como fonte inesgotável de expressão e pensamento.

Angelina Accetta